Transição energética: uma oportunidade para as empresas
27/02/2024 11:31
A situação climática e o momento que a humanidade atravessa são únicos: a transição dos combustíveis fósseis para fontes de energia renovável é, por isso, a maior revolução do nosso tempo.
As ambições são hoje bem conhecidas: Portugal quer antecipar em cinco anos a meta de atingir a neutralidade carbónica, para 2045. Mas para o conseguir, tem de aumentar significativamente a energia renovável que é produzida em território nacional (85% até 2030) e reduzir o consumo energético primário (-35%).
Os prazos são curtos para tamanha tarefa e, embora os avanços na ciência e na tecnologia sejam fundamentais para dar corda à inovação necessária, é necessário um esforço de colaboração entre todos – governos, empresas e famílias. Neste caminho rumo à descarbonização da economia, há desafios para enfrentar, mas também oportunidades imperdíveis.
As empresas são uma parte crítica da economia e o seu consumo de energia tem de ser mais eficiente e mais sustentável. Assim, são cada vez mais as que optam pela produção descentralizada de energia, instalando nos seus terrenos, telhados ou parques de estacionamento painéis solares para autoconsumo. Este novo paradigma tem não só benefícios para o planeta, mas também oportunidades económicas, ambientais e de reputação para as próprias empresas.
Agentes da mudança
Afinal, como podem as empresas acelerar a transição para um mundo melhor? Além do papel crucial das produtoras de energia, que têm de substituir o uso de combustíveis fósseis para produzir eletricidade por fontes renováveis, também as comercializadoras de energia devem procurar disponibilizar soluções da transição energética para os seus clientes. Com medidas de eficiência energética, contratos de longa duração, escolha por eletricidade renovável ou instalação de painéis solares, as empresas podem tornar a sua atividade mais sustentável e mais económica.
O poder da energia solar
Segundo a Agência Internacional de Energia, em 2023 a nova capacidade renovável a nível global cresceu quase 50%, naquela que foi a taxa de crescimento mais rápida das duas últimas décadas. Desta, três quartos vêm da energia solar, que assume um papel cada vez central no caminho para a neutralidade carbónica.
É preciso acelerar o desenvolvimento de soluções solares, que têm uma oportunidade de grande crescimento nos telhados e terrenos disponíveis na Península Ibérica que, com cerca de 300 dias de sol por ano, pode dar um contributo importante para a transição energética. Esta é por isso uma escolha cada vez mais óbvia para as empresas, não só por ser renovável e inesgotável, mas também por ser sinónimo de poupança. A autonomia de gerir a própria produção e consumo de energia permite que as empresas estejam menos expostas às flutuações dos preços de eletricidade no mercado. Ao aderirem à energia solar, as empresas conseguem alcançar poupanças de até 25% na fatura mensal de eletricidade. E com a descida dos custos das instalações solares, as taxas de retorno do investimento têm vindo a reduzir-se, situando-se agora entre os quatro a seis anos para as empresas.
A multinacional McDonald’s abraçou desde cedo este caminho. "Há mais de 10 anos que temos uma preocupação com a gestão ambiental. Começámos a certificar todos os restaurantes para monitorizar os consumos de energia, de resíduos e dos equipamentos para detetar como podíamos ser mais eficientes", conta Inês Lima. A diretora-geral da marca em Portugal partilha ainda que o restaurante de Pombal "é um exemplo único" a nível europeu e que "pretende ser um piloto para todas as soluções mais eficientes em termos energéticos". É, no fundo, um espaço de experimentação – e com resultados. "Já sentimos uma redução de 10% no consumo dos equipamentos e também, na altura da primavera e do verão, 60% da energia já provém dos painéis solares", acrescenta. Se a cobertura total do edifício com painéis solares é importante, os postos de carregamento de veículos elétricos instalados em dezenas de restaurantes da marca são igualmente essenciais para apoiar a mobilidade sustentável. A McDonald’s Portugal quer atingir o marco dos 200 postos até 2025.
Criar ou aderir a um Bairro Solar
O setor da indústria é responsável por cerca de 30% das emissões globais de CO2 de acordo com a Agência Internacional de Energia. Neste sentido, a descarbonização do calor que é usado nos processos produtivos do setor industrial será fundamental para atingir a neutralidade carbónica. Em 2022, o calor foi responsável por quase metade do consumo total de energia final e por 38% das emissões de CO2 relacionadas com a energia. A eletrificação do calor tem sido um desafio para a indústria a nível mundial, mas o futuro do calor é renovável: a energia solar é já hoje a forma de produção de energia elétrica mais competitiva no mercado. Essa energia precisa de ser armazenada. O surgimento de soluções simples de armazenamento de calor resolve o grande desafio que é a intermitência da produção solar e eólica, tornando a eletrificação do calor industrial numa possibilidade acionável no imediato. O armazenamento térmico é então uma tecnologia que permite armazenar o calor gerado por fontes renováveis ou processos industriais e utilizá-lo quando necessário. Para além de reduzir emissões é uma solução com um custo económico muito interessante, especialmente para indústrias que consomem grandes quantidades de energia. A inovação ajuda a acelerar os esforços para um mundo neutro em carbono mas, para a realizar, será necessária uma colaboração entre energéticas, governos, entidades públicas e privadas e os líderes da inovação no setor. por desafios de espaço disponível ou de investimento
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